Durou 30 minutos a votação do Conselho Universitário que
aprovou a adesão da Universidade Federal de Santa Catarina à Empresa de
Serviços Hospitalares (Ebserh). Assim, numa tarde melancólica, sob a tutela da
Polícia Militar, nas dependência de um quartel, a administração de Roselane/Lúcia
coloca fim a décadas de vida de um hospital 100% público. Agora, administrado
por empresa de direito privado, o HU vai conhecer a realidade das duas portas -
uma do SUS e outra do plano de saúde, e toda a sorte de misérias que acontecem
quando a saúde da população vira mercadoria.
Numa atitude que nem mesmo as reitorias que atuaram no
regime militar tomariam, a reitora Roselane Neckel pediu à Polícia Militar para
realizar a reunião nas dependências do quartel. E tudo isso porque não quis
tolerar as manifestações de protestos de estudantes, professores e técnicos que
exigiam que o Conselho Universitário respaldasse o plebiscito realizado na universidade
pela própria administração, que deu a vitória a não adesão, em 70%.
Disposta a provar a adesão a reitora não seguiu nem mesmo os
ritos liberais de livre manifestação de ideias. E, amparada pela força, colocou
fim ao processo.
O local da reunião só foi divulgado de manhã cedo, embora o
jornal Diário Catarinense tivesse
soltado uma nota com a novidade. Imediatamente a confirmação o professor Carlos
Locatelli que era o relator da matéria, se manifestou dizendo que não
participaria da reunião caso ela fosse mesmo realizada nas dependências da
polícia. Em seguida, o parecerista de vista, professor Paulo Pinheiro Machado
também solicitou que a reitora revisse a decisão e fizesse a reunião dentro da
UFSC. Roselane se fez surda. A bancada dos técnico-administrativos também laçou
nota dizendo que jamais participaria de um ato arbitrário e do que consideraram
completa perda de autonomia.
Quando bateram as duas horas da tarde, os TAEs permaneceram
em frente ao quartel junto com alguns estudantes e professores conselheiros que
também não entraram. Mas, pouco a pouco, os pró-reitores, professores e
representantes do DCE foram chegando e cumprindo os rituais da PM. Assinavam
lista e mostravam documentos. A reitora chegou quando ainda nem era uma hora da
tarde, para evitar encontrar algum manifestante. Dentro do quartel estavam dois
grupos da tropa de choque, que realizaram alguns exercícios de manifestação de
força, e por toda a rua circulavam policiais montados em motocicletas. No
portão, uns dez soldados faziam guarda.
Durante toda a sessão o chefe de gabinete, professor Carlos
Vieira, permaneceu na parte de fora do quartel, sentado no meio-fio, numa visão
melancólica que bem representa essa gestão que encerra sua triste passagem pela
UFSC. Roselane e Lúcia, as primeiras mulheres a dirigirem a Universidade
entrarão para a história como pioneiras: foram as primeiras a cortar salário de
trabalhador em luta, as primeiras registrar greve como falta injustificada ao
trabalho, e as primeiras a realizarem uma reunião do Conselho nas dependências
da Polícia Militar.
Em menos de 30 minutos a votação estava realizada. Os
conselheiros que aceitaram participar dessa triste sessão do CUn foram saindo
com as caras amarradas, enquanto os estudantes gritavam "covardes" e
"não nos representam". Apenas o professor Carlos Pinheiro, o Maninho, saiu ironizando, rindo para os
manifestantes e fazendo o V da vitória. Roselane e Lúcia escapuliram por alguma
outra saída do quartel e não passaram pelo portão. E os representantes do DCE
fugiram num carro, recebendo vaias dos colegas.
A votação realizada sob a tutela da Polícia Militar foi de
35 votos à favor da Ebserh e dois contra. Participaram portanto 37 dos 61 membros do CUn. A história haverá de responsabilizar
esses professores e estudantes que
entregaram o Hospital Universitário para mãos privadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário