Relatos da reunião do Conselho Universitário
Por Elaine Tavares
Estou suplente no Conselho
Universitário da UFSC. Mas, como é comum entre o grupo que se elegeu para
representar os TAEs, o suplente acompanha todas as reuniões. Assim, podemos acompanhar as discussões sobre as decisões mais
importantes que a universidade como instituição precisa tomar. Já relatamos a
nossa intervenção, como grupo, no campo
das Fundações. Em várias reuniões fizemos o bom debate sobre o papel dessas
entidades privadas dentro da UFSC e conseguimos fazer com que, pelo menos as
fundações avaliadas por nós, colocassem em prática sistemas de transparência na
prestação de contas, com disponibilidade na rede mundial de computadores de todas
as informações que a instituição e o público em geral precisa. Estamos
acompanhando e vigilantes nesse ponto, uma vez que a UFSC ainda não prescindiu
da ação dessas fundações no seu trabalho cotidiano. Nossa posição sobre essas
fundações é clara: elas não são necessárias e a universidade precisa avançar
para sua autonomia real.
A expansão
Nas últimas reuniões do CUn nos
deparamos com os problemas vividos com a expansão desenfreada da universidade.
Quem tem memória deve se lembrar que quando começou o frisson da expansão
muitos foram o debates feitos sobre a rapidez do processo, a falta de
planejamento e a falta de qualidade que poderia advir de toda aquela pressa.
Foi até criado um fórum permanente que buscava apontar os problemas e impedir
aquilo que hoje aparece como uma realidade. E, como sempre acontece, aqueles
que se colocavam críticos do processo de expansão eram acusados de elitistas,
entraves para o progresso da educação, além de outros adjetivos bem menos
elegantes. Pois nas reuniões do Conselho não são poucas as demandas que vêm dos
campi de Curitibanos, Joinville e Araranguá. Faltam professores, a estrutura
não é adequada, faltam trabalhadores técnicos administrativos. E a pergunta que
fica é a mesma que era feita no começo de tudo isso: que tipo de conhecimento
recebe o aluno desses campi? Com todos os problemas causados por uma expansão
às pressas?
Por outro lado, o processo segue
avançando. E na reunião desse dia 13 de agosto, foi deliberado pela criação de
mais um campus, dessa vez na cidade de Blumenau. Serão criados dois cursos de
licenciatura (Matemática e Química) e três de Engenharia (Materiais, Têxtil e
Controle e Automação). Segundo a reitora, foram visitadas outras cidades na
região, mas Blumenau foi a que apresentou a melhor estrutura, contando inclusive
com área já construída. Ainda segundo relato da administração esse novo campus
não deverá apresentar os problemas dos outros três criados no contexto do
Reuni. É uma espécie de pacote pronto que conta com cinco cursos, 123
professores e 171 técnico-administrativos. Para que se possa comparar, os
demais cursos iniciaram com pouco mais de 20 professores e 23 técnico-administrativos.
De qualquer sorte, a proposta de
universidade definida pelo MEC e UFSC, segue a mesma lógica de conexão com o
setor produtivo local, sem preocupação com uma formação humana, histórica e social:
que é a base da universidade. "Sem isso é como se fosse só uma escola de Nível
Superior", lembrou a professora Sônia Maluf.
O conservadorismo petrificado
Também na reunião do dia 13 de
agosto foi discutido um tema espinhoso. A proposta de exoneração de uma
professora do Curso de Enfermagem, que está ainda no curso de seu estágio
probatório. O relator do processo foi o professor Paulo Pinheiro Machado, que
apresentou seu voto favorável a exoneração. Segundo ele, a documentação
encaminhada pelas comissões que fizeram o acompanhamento e avaliação do estágio
da professora estava bem amparada. A acusação era de que a professora tinha
problemas de pontualidade, assiduidade e havia falado mal de alguns colegas.
No decorrer da leitura dos
documentos e discussão do tema, vários pontos foram aparecendo que levavam a
crer que o processo carecia de fundamentos mais firmes. Não havia documentação
de chefia imediata informando as faltas ou os atrasos. Tudo esteve baseado em
depoimentos orais. Também surpreendeu que a professora tivesse excelentes
avaliações dos alunos e até mesmo dos colegas, que não apontavam problemas na
sua ação como docente nem na sua produção acadêmica. Foram relatados alguns
comportamentos considerados "estranhos", como o fato de a professora
ter consolado uma aluna com problemas, de forma muito carinhosa.
Da bancada dos técnicos foi
levantada a questão de que a instituição tem sempre a saída cômoda de expulsar
qualquer pessoa que não se enquadre nos padrões definidos como
"normal". Também foi lembrado que em vária situações, alunos realizam
grande lutas contra a falta de competência didática de professores e nunca
encontram guarida, nem nos departamentos muito menos no CUn. Problemas com assiduidade
e pontualidade são comuns e praticamente ninguém é sequer chamado a atenção. Na
bancada dos alunos também houve questionamento do fato de a professora ter a
aprovação dos alunos. Por que isso não foi levando em conta? Até onde o
comportamento pouco usual, afetivo e de companheirismo, da professora não era o
real motivo da condena?
Outro elemento que chamou a
atenção no debate foi a informação dada pelo relator, Paulo Pinheiro Machado,
de que a professora era, antes de passar no concurso, uma trabalhadora do
HU e que seu cargo estaria vago, podendo ela retornar ao mesmo. Ou seja, a
impressão que dava era de que a professora tinha mais era que voltar para o seu
lugar: de técnica, porque não tinha sido bem avaliada pelos docentes, então
seus novos colegas. Foi um momento
bastante constrangedor.
Ao final, mesmo tendo sido feito
um pedido por parte do professor Luis Carlos Cancellier, para que a legalidade do
processo fosse avaliada pela procuradoria da UFSC, o que evitaria possível
recurso à Justiça comum, a maioria não aceitou, votando contrário à proposta. Havia
uma pressa em votar o parecer. Assim, nova votação foi feita, dessa vez, definindo
se a professora era exonerada ou não. Foram 25 votos favoráveis à exoneração e
12 contrários. Os contrários foram da bancada dos técnicos, dos estudantes e
três professores. Ficaram muitas dúvidas com relação ao tema, mas como estava
em regime de urgência não foi possível pedir vistas.
Núcleo de Desenvolvimento Infantil
Outro ponto discutido na reunião
foi o do Núcleo de Desenvolvimento Infantil. O MEC insiste em querer repassar o
NDI para o âmbito do município, o que significaria a destruição de todo o
trabalho realizado pelo núcleo ao longo de toda a sua história, que é o de
servir de espaço para a prática de toda a teoria que é estudada e ensinada nos
cursos de graduação que envolvem a educação infantil. Assim como o Colégio de
Aplicação, o NDI faz parte da estrutura de ensino dos cursos de graduação e
tirá-los do processo nada mais é do que a velha política de desmonte da
universidade. Nesse ponto o conselheiro Hélio Rodak foi enfático: é necessário
que a administração da UFSC tenha uma posição mais clara com relação ao projeto
do governo federal para a educação como um todo. Segundo ele, não basta repudiar
essa proposta em particular, porque o que está em questão é um projeto global
de universidade.
De qualquer forma, foi decidido
que será feito um documento para ser entregue ao ministro Mercadante, repudiando
essa proposta e exigindo que o NDI permaneça vinculado á UFSC como o espaço de
ensino que sempre foi. Essa é uma luta que, obviamente não acaba aí. Há que
informar a comunidade universitária sobre isso, informar a sociedade catarinense,
explicar a importância do NDI, para que os catarinense sintam-se seguros em
defender a permanência do NDI vinculado à proposta pedagógica da UFSC. E, para
isso, é preciso que a UFSC se comunique com mais eficácia. Tem sido muito ruim a
comunicação da universidade com a sociedade. Sabe-se que há uma campanha da RBS
contra a UFSC, por conta da retirada de verbas publicitárias, mas não é só a RBS
que existe. Há centenas de rádios no interior, jornais e agências autônomas de
notícias. Isso sem contar as redes sociais. É inexplicável que a Agecom não
tenha uma conta no Facebook, por exemplo.
5 comentários:
O projeto que relatei na última reunião do CUN, segunda-feira, já tinha sido apresentado na reunião do mesmo Conselho na semana passada, onde foi discutido por 45 minutos, oportunidade na qual adiantei o teor do meu parecer. Ainda não estava em regime de urgência e ninguém, digo ninguém, se interessou em pedir vistas. Naquela oportunidade eu avisei que pediria regime de urgência na reunião desta semana. Não sei se você estava presente, mas muitos outros estavam. Acho que você devia ter um certo cuidado em revelar problemas pessoais da professora em questão num blog público, já que tivemos o cuidado em desligar a transmissão pela internet para não expor pessoalmente a profissional. Saliento que todas as informações orais que chegaram à Comissão de Avaliação do Departamento de Enfermagem foram documentadas por escrito e assinadas pelos respectivos autores e responsáveis. Há sim o registro de faltas e atrasos ao trabalho pela Chefia, dirigidos ao Colegiado do Departamento e à Comissão de Avaliação, conforme consta no meu parecer, as faltas só não resultaram em descontos no salário. Você definitivamente não me conhece, portanto reserve para si esta avaliação de que desejei expulsar uma pessoa não definida como "normal". Isto é uma leviandade. A informação de que a professora poderá retornar ao HU era um dado objetivo, presente no processo, e foi resposta a uma pergunta solicitada por um conselheiro, não entendi o constrangimento porque não vejo como desqualificado o trabalho dos técnicos. O professor Cancellier pediu um pronunciamento da Procuradoria, mas este já existe no processo, atestando sua regularidade. Meu parecer foi o resultado de um mês de estudo e investigação neste processo, é óbvio que pode estar errado, mas tenho convicção que agi com justiça à professora, ao Departamento e à UFSC. A matéria acima não concedeu o Direito de resposta no blog, revelando, além de uma noção política ligeira, leviana e superficial, um jornalismo lamentável.
Estimado professor. O texto, em nenhum momento desmerece o trabalho que tivestes de realizar a análise do caso. Apenas não compartilha da decisão tomada. Ademais, lembro que o problema relatado não é pessoal, é publico, diz respeito a um trabalhador público. Inclusive recebi carta de familiares da professora, agradecendo pelo fato de eu ter publicizado o assunto. Os familiares, assim como eu, lamentam a decisão.
"é óbvio que pode estar errado, mas tenho convicção que agi com justiça à professora, ao Departamento e à UFSC"
Só esqueceu de quem se importa, os alunos.
"Nesta última segunda-feira (semana de dia dos professores) os frequentantes do CCS se depararam logo pela manhã com uma faixa nas escadas do prédio e cartões-postais coloridos amarrados em diversos locais do centro. Neles estavam escritas frases como "Exonera minha saudade?", "Mais amor por favor", "De mãos atadas perdi meu ouro", "Inspiração exonerada" e "Humanização de fachada!" todos endereçados ao Departamento de Enfermagem da UFSC.
O objetivo protesta a exoneração da Prof. Dr. Laura Cristina da Silva Lisboa de Souza, que é vista como injusta por maior parte de seu corpo discente. A saída da professora, que é considerada uma grande inspiração aos seus alunos, deixa inconformação no campus e leva estudantes à um manifesto em silêncio, que ressalta o fato de não serem ouvidos durante o processo de exclusão.
A cada dia da semana, aumentam-se as árvores enfeitadas com os cartões que levam um modo poético de protesto e dor ao fato. Espera-se uma resposta positiva quanto a sua volta. Pede-se "mais amor por favor!"."
Como cidadão -antes de qualquer outra postura- e pós-graduado na UFSC (1999), além de ter trabalhado como técnico/jornalista no Sintufsc nos anos 90, preocupa-me o encaminhamento e rumos da situação aqui apresentada. Há pontos decididamente absurdos como, por exemplo, transferir a responsabilidade dos destino do NDI para a prefeitura de Florianópolis (?). Já a questão da exoneração da Prof. Dr. Laura Cristina da Silva Lisboa de Souza,no Departamento de Enfermagem da UFSC surge como uma medida preocupante não apenas para a sociedade acadêmica, mas para a sociedade em geral, pois os anos de excelentes serviços prestados pela profissional foram deixados de lado e limitados a um parecer reduzido do CUN. Sobre os argumentos postados aqui neste espaço pelo relator/parecelista, professor Paulo Pinheiro, buscam apoio na legalidade dos procedimentos; como se apenas isto justificasse tratar a manifestação da colega Elaine Tavares como leviana..."Você definitivamente não me conhece, portanto reserve para si esta avaliação de que desejei expulsar uma pessoa não definida como "normal". Isto é uma leviandade."...e mais ao final..."A matéria acima não concedeu o Direito de resposta no blog, revelando, além de uma noção política ligeira, leviana e superficial, um jornalismo lamentável". Definitivamente, mesmo não vivenciando a prático cotidiana do saudável ambiente universitário, causou-me -e à tantas outras pessoas- preocupação pelo teor e forma do texto produzido pelo prezado professor. Resta-nos solicitar bom senso no trato de questões tão fundamentais para o desenvolvimento da nossa estimada UFSC, pois se não contarmos com o CUN como espaço democrático para o debate positivo e avanços necessários, estaremos reduzidos às decisões unilaterais e aos confrontos estéreis ora de grupos diretivos ora na esfera pessoal. É preciso repensar e avançar nas ações construtivas.
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