sexta-feira, 19 de junho de 2015

Análise de conjuntura





Acompanhado de muito frio e chuva forte, um grupo de trabalhadores da UFSC realizou na tarde dessa quarta-feira (18), uma roda de conversa sobre a conjuntura na qual está mergulhada a greve dos trabalhadores técnico-administrativos em educação da UFSC. Nesse texto compartilhamos alguns pontos que foram levantados e oferecemos para análise de todos. Entender as forças que atuam contra e a favor das lutas é sempre muito importante para traçar os caminhos e as estratégias do movimento. A proposta é ir engordando essa análise com mais contribuições dos colegas nos próximos encontros de discussão.

Internacional
O planeta que viveu durante um longo tempo, pós-queda do regime soviético, sob o quase completo domínio dos Estados Unidos, hoje vivencia o fortalecimento de outra força política que disputa poder mundial: é a união russo/chinesa. Esse núcleo de poder tem tido forte presença na América Latina e realizado vários acordos comerciais e financeiros. A China, por exemplo, tem oferecido empréstimos musculosos aos países da América Latina, abrindo portas para novas dívidas em condições não muito diferentes das que foram contraídas com o FMI.
A força do bloco latino-americano – que cresceu muito durante o tempo de presença de Hugo Chávez – está enfraquecida. Apesar da atuação em bloco via Unasul, muitos países estão sucumbindo a uma viragem neoliberal e de aproximação com o bloco sino/russo. Ainda que existam países em resistência contra as investidas do modo de vida neoliberal, nada mais são do que resistência mesmo.

A lógica imposta pelo capital para se reestruturar é a da superexploração dos trabalhadores, que, agora, chega também aos trabalhadores do chamado primeiro mundo. Vide a crise por que passam países como Portugal, Espanha, Grécia. Entenda-se a superexploração como maior intensidade de trabalho sem a equivalência no salário. Isso sempre foi regra nos países periféricos, mas agora avança também para os países centrais.

As mudanças tecnológicas mudaram também a universidade e os espações da política. Já não é mais possível fazer uma greve como nos anos 80. Há que buscar novos instrumentos para um novo tempo.

Nacional
No Brasil, observa-se um ataque cada vez mais forte contra os trabalhadores por parte do governo federal. Um ataque violento aos direitos trabalhistas e ao serviço público, bastante visível nos cortes orçamentários, que foram profundos na educação e na saúde. Acabou a ilusão do crescimento e a opção foi cortar dos trabalhadores, cortas da população e manter os pagamentos da dívida que consomem mais de 47% do orçamento.

Em plena greve dos trabalhadores, o governo anuncia nova proposta sobre aposentadoria, alegando que é a previdência o grande mal do país, como se os velhos, os trabalhadores que já deram importante contribuição, sejam os “cânceres” que impedem o país de avançar.  A proposta de aumento da idade para aposentadoria é um tapa na cara dos trabalhadores e um ataque ao serviço público. O chamado rombo da previdência – se é que ele existe, há controvérsias - não é causado pelos trabalhadores, ele existe por conta da sonegação dos empresários e do próprio governo.

Há um apagamento do debate sobre a dívida pública, apesar de ser esse o tema que tem levado o Brasil a atual crise. Compreender o sistema da dívida, saber quais os mecanismos que atuam. Qual o modus operandi e apontar para uma auditoria é questão que deveria fazer parte – com destaque – de todas as pautas dos trabalhadores. Importante lembrar que o Equador fez uma auditoria na sua dívida e verificou que 70% dos contratos eram ilegais. Com isso comprovado, essa dívida não foi paga e os credores nada puderam fazer. A Grécia está indo pelo mesmo caminho e deverá atuar de maneira semelhante. É hora do Brasil fazer a sua auditoria.

Temos um Congresso Nacional com uma cara conservadora demais, cuja maioria tem apostado no atraso e no ataque sistemático aos trabalhadores. São feitas reformas nas leis que retiram direitos, redução da maioridade penal, avanço da religião interferindo nos assuntos do estado. Falta preocupação com a questão da dívida, há um ocultamento da importância desse tema para a melhoria da vida nacional.

Manteve-se o financiamento de empresas aos partidos, tornando praticamente impossível uma mudança pela via institucional. Se por um lado isso acaba com a ilusão da institucionalidade como espaço de transformação, por outro consolida ainda mais o perverso sistema de eleição de testas de ferro de interesses do capital.

A aposta num sistema de ajuste fiscal leva ao desemprego e a um aprofundamento da crise. Cortam recursos nas áreas de interesse da maioria. Empobrece o serviço público e perde a população em qualidade e garantia de direitos.

No campo específico da universidade, o governo investiu na divisão dos trabalhadores. A própria proposta de qualificação, que é uma reivindicação histórica dos TAEs, tem ajudado a tirar da luta muitos companheiros que poderiam estar nas trincheiras. A aposta tem sido nas saídas individuais. Fazer um mestrado ou doutorado pode aumentar o salário em 30, 40 ou 50%. Melhor então investir nisso que na luta coletiva. O problema é que não é para todos. Ainda assim, a própria qualificação tem de ser pensada. Os cursos estão formando para quê? Os trabalhadores estão estudando apenas para aumentar salário ou estão preocupados com sua compreensão da realidade?

Algumas análises apontaram no sentido de que é chegada a hora de fazer uma profunda discussão sobre o papel do sindicato e do partido político. Até onde esses espaços ainda representam instrumentos eficazes de luta dos trabalhadores. O modelo sindical separado do político tem levado a muitas derrotas. É hora de pensar sobre isso e apontar novos rumos.

Local
Há uma grande dificuldade por parte dos trabalhadores em analisar de forma correta a conjuntura. Parece já não existirem mais os instrumentos para  que essa análise se faça. Os trabalhadores perdem o interesse pela discussão, acreditando que analisar a conjuntura é apenas “jogar conversa fora”, a ponto até de reduzirem o tempo para isso nas assembleias.
Há um processo de fragmentação muito grande entre os trabalhadores que torna ainda mais difícil a luta. O instrumento “partido político” que foi construído por décadas, está destruído.  Poucos confiam que seja a partir do partido que as ideias de reconstituição do tecido político possam brotar. Falta confiança nessas instâncias depois que o PT tornou-se o partido da ordem esquecendo suas bandeiras. Falta confiança também nos grupos políticos que dirigem a Fasubra, o que enfraquece a luta.

É preciso investir num processo de formação política dos trabalhadores, principalmente no que diz respeito as forças que atuam no movimento nacional. Entender que forças são essas, que políticas defendem, como atuam, se estão mais ligadas aos interesses partidários que aos dos trabalhadores. É fundamental fazer esse debate na UFSC.

Percebe-se que há um grande desencanto por parte dos trabalhadores, há falta de referência histórica e política que precisa ser debatida. Se não há interesse em discutir política temos de buscar as causas e construir espaços diferenciados para que isso se faça. Sem compreensão do passado e da realidade presente, fica impossível apontar caminhos do amanhã.

Apesar da ação bastante desmobilizadora do Sindicato local, avalia-se que há um espaço importante de resistência dentro da UFSC. E a preocupação desse grupo que hoje discute conjuntura é um exemplo. Dá para ampliar e avançar.

Desafios
. Debater profundamente com a categoria a questão da dívida pública

. Pensar a universidade pública dentro desse novo contexto de desmonte e de mudança, em que a educação volta a ser encarada como um custo, um prejuízo aos cofres públicos e não um investimento.

. Realizar debate sobre o tema dos terceirizados  - na UFSC 180 demissões, entendendo que isso está dentro da lógica da superexploração do trabalho que atinge a todos.

. Encontrar novos instrumentos para travar a batalha num tempo novo, no qual o campo da luta se configura como totalmente novo.

. Estudar o orçamento nacional, entendendo-o como um mapa da luta de classes no Brasil
. Atuar no campo pedagógico, entendendo que a greve é um momento importante de resistência.

. Buscar articulações em nível local e nacional para não fazer a luta sozinhos e para avançar de maneira coletiva no estudo das grandes questões. Articular com o movimento dos professores.
. Encontrar caminhos para a defesa do serviço público, sem que isso seja um discurso vazio.
. Pensar atividades descentralizadas para formação política

Forças contrárias
. governo federal
. congresso conservador
. sindicato local desmobilizador
. DCE à direita
. reitoria descomprometida com os TAES
. desconhecimento da realidade
. fragmentação da luta
. conjuntura mundial desfavorável
. desencanto sobre a política

Forças a favor
. lutadores sociais que ainda permanecem em luta na cidade, na UFSC e nacionalmente
. trabalhadores novos que querem participar
. grupo de professores mobilizados
. Um número bem reduzido de parlamentares em nível nacional

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