A assembleia esperada pelos
trabalhadores da UFSC, para receber uma contraproposta da administração central,
acabou em frustração. Ignorando todo o debate realizado nas duas reuniões de negociação
a reitoria mandou um ofício que, em vez de uma proposta de resolução do impasse
criado pela falta de democracia, só aprofunda ainda mais o autoritarismo. No
documento ela afirma que as “faltas e impontualidades” serão registradas e os
trabalhadores serão descontados. Ou seja, pela primeira vez na história da
UFSC, um administrador – nesse caso uma administradora - se dispõe a não
reconhecer um movimento de greve e a cortar o salário. Ainda segundo o
documento, a reitora se remete à última greve comandada pela Fasubra, alegando
que a Justiça já havia tornado a mesma ilegal. Confunde um movimento nacional,
que acabou em 30 de junho desse ano, com a greve interna, inédita e histórica,
iniciada em 05 de agosto, tendo como pauta central a retomada da democracia.
A decisão de cortar o ponto dos grevistas esbarra em algumas questões
que deverão ser resolvidas pela administração. Como alegar impontualidade se os
trabalhadores fazem uma greve de ocupação, portanto, trabalhando, nos seus
locais de trabalho? Como computar falta se os trabalhadores estão nos seus
postos, todos os dias, inclusive ampliando o atendimento? Como cortar o salário
de quem está cumprindo com todas as suas funções? Que tipo de relação as
reitoras Roselane e Lucia estão querendo estabelecer com a categoria que
representa 70% do números de trabalhadores da instituição?
Durante a reunião de negociação realizada na semana passada, o chefe de
gabinete Carlos Vieira e o professor Pinheirinho deixaram claro que a reitora
tomaria uma posição com relação ao movimento depois de uma reunião com os
Diretores de Centro – que agora virou o fórum de decisão da UFSC. Essa reunião
aconteceu na terça-feira, e deve ter sido lá que os professores que ocupam
cargos de administração, dirigindo os Centros de Ensino do UFSC, apontaram ou
respaldaram a decisão – também histórica
- da reitoria em não reconhecer o movimento grevista e cortar o ponto de
quem está trabalhando. Uma posição igualmente autoritária e antidemocrática em
nada condizente com a vocação da universidade.
Mas, a administração não ficou só na ameaça de cortar o salário de quem
está trabalhando e ampliando o atendimento. Ela também se nega a aceitar os
boletins de frequência que foram registrados pelos trabalhadores como “em greve”.
Nessa quarta-feira, um dia após a reunião com os diretores de centro, vários
setores da UFSC devolveram os boletins de frequência para que fossem registrados
neles a ausência dos trabalhadores. Conforme orientação da assembleia os
grevistas apenas registraram “em greve”. Pois a reitoria insiste que os colegas
que assumem postos de chefia delatem seus companheiros de trabalho, anotando na
folha uma suposta falta, ou registrando que os trabalhadores deixaram de
cumprir oito horas. De forma inédita, a administração institui a prática da
delação, como num retorno a tempos obscuros. Segundo relatos de trabalhadores
do Santa Clara, é o que está acontecendo no prédio da administração central. Da
mesma forma, os professores, diretores de centro, estão se prestando a esse papel,
já que serão eles os carrascos dos trabalhadores.
Ao que parece, a decisão dos diretores, junto com a administração central,
foi de ignorar que há uma greve, e tratar a decisão do movimento como um caso “isolado”
de insubordinação ou de impontualidade, podendo assim seguir com a cotidiana
lógica de processar os trabalhadores com inquéritos administrativos,
buscando punir individualmente, criando a cultura do medo.
Assim, surpreendidos com mais um ato autoritário do núcleo dirigente da
UFSC, incluindo aí os diretores de centro, os trabalhadores avaliaram que a
administração não tem intenção de resolver o impasse, muito menos de ampliar o
atendimento. Há uma tentativa de vencer os trabalhadores com a “mão dura” de uma
suposta moralidade, que é pesada com os trabalhadores, mas leve com outros setores, como por exemplo, as
fundações privadas que vivem dentro da UFSC. A velha regra política de
massacrar os pequenos e ajoelhar para os grandes.
Os trabalhadores decidiram continuar a greve, sempre abertos à
discussão. A comissão de mobilização vai apresentar algumas propostas de
intensificação da luta e haverá uma forte fiscalização com relação a possíveis
fraudes. Há informações de que em alguns centros viceja a política do “jeitinho”.
Ou seja, os TAEs assinam a folha como se fizessem oito horas, mas fazem seis. Todas
as denúncias levantadas serão apuradas. Mas é importante que as chefias já
atentem para o perigo de estarem praticando falsidade ideológica.
Passado um mês do início da greve dos trabalhadores, a administração segue
atuando de maneira profundamente antidemocrática, e se recusando ao debate. Coisa
que tem surpreendido aqueles que votaram na chapa que hoje dirige a UFSC. “Eu
votei nelas e fiquei aqui por causa delas. Já podia ter me aposentado. Agora,
com tudo isso, eu decidi que vou me aposentar. Por causa delas”, declarou um
trabalhador. Um momento de emoção para uma categoria já tão penalizada. “Elas
vão passar, nós ficaremos. Por isso, vamos seguir lutando”. Os trabalhadores
insistem que estão num movimento legítimo, que querem o debate fraterno sobre a
jornada, envolvendo toda a comunidade e ainda acreditam na possibilidade da negociação.
A greve segue, apesar de todas as ameaças. Na sexta-feira uma nova
assembleia acontece. É muito importante a participação de todos.
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