quinta-feira, 14 de agosto de 2014

É hora da coragem!




A greve dos trabalhadores da UFSC se fortalece. Vários setores aderem ao movimento que, desta vez, abre as portas em vez de fechar. É uma greve nova, diferente. Um desafio para todos nós. É uma resposta madura para uma atitude de retaliação, antidemocrática, tomada pela reitora RoselaneNeckel poucos dias depois do fim de uma longa greve nacional.

O movimento iniciado pelos trabalhadores põe às claras a incapacidade dessa administração de dialogar de verdade, de cumprir com seus acordos, de discutir os problemas da universidade com quem a faz. Excluindo estudantes, técnico-administrativos edocentes, a atual reitora chama de “democrático” um fórum que não existe nas instâncias da UFSC: uma reunião com diretores de Centro.  Ora, temas que interessam à comunidade devem ser discutidos com todos, e principalmente com os implicados. O tempo do autoritarismo já passou. O tempo dos debates a portas fechadas não tem mais lugar!

E foi por causa desse desrespeito que os TAEs entraram em greve. Já mostraram, comprovaram, que a UFSC pode abrir das sete da manhã às dez da noite. Estão amparados na lei. É uma possibilidade legal, viável e necessária. Por isso, a greve abre as portas, e mostra, no exemplo, que as 30 horas para todos são possíveis.

Mas, diante dessa luta, tudo o que os trabalhadores encontram é violência e intimidação. Pró-reitores, diretores de centro, chefes de quarto e quinto escalão, usam de sua “autoridade” para humilhar, assediar e inculcar o medo, como se fossem patrões e não colegas servidores públicos. Ameaçam com corte de ponto, exoneração, punições de todo o tipo. Pouco se importam com o público que precisa das portas abertas. Preferem ficar cegos à possibilidade de uma ampliação do atendimento. E comportam-se de maneira mais real que o rei. São os novos feitores do século XXI.

Diante das ameaças, começa a crescer o medo, esse monstro que, instalado, imobiliza e acovarda. Como ficar sem salário? Que fazer se não for aprovado no estágio probatório? E se me removerem para outro setor onde não queira trabalhar?Em nosso imaginário, os riscos são muitos. Essa é uma administração que tem se pautado pela revanche e pelo autoritarismo. Nos ameaçam com coisas que são ilegais em nome de uma legalidade que eles, os feitores, interpretam a seu bel-prazer. E cabe a nós, TAEs, sabermos bem nossos direitos para não cairmos no jogo do medo. 

Vejamos o artigo 144 da lei 8112/90, que fala sobre o regime jurídico dos servidores públicos da União: “As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apuração, desde que contenham a identificação e o endereço do denunciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a autenticidade.Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada, por falta de objeto.”

O que todos devemos nos perguntar é: fazer greve é um ato ilegal? Ausentar-se do trabalho (ou trabalhar 6 horas) por motivo de estarmos em greve, configura irregularidade? Claro que não! Ninguém pode ter seu ponto descontado em greve. Ninguém pode ser reprovado em estágio probatório ou exonerado por questões políticas. Podem até tentar, mas não vão conseguir, porque nós, TAEs organizados, vamos resistir e nos defender, política e juridicamente.

O direito à greve é um dos direitos fundamentais de qualquer trabalhador. É contra este direito que a reitoria atenta quando nos ameaça. Ameaçam nos expulsar pela porta dos fundos, porque temem que abramos as portas da frente da UFSC a toda a comunidade universitária.E ceder a essas ameaças significa abrir mão de nosso direito à greve, conquistado pela luta histórica de milhares de trabalhadores do passado!

Por isso que essa é a hora da coragem. O que não significa que não possa existir o medo. Seríamos tolos se não sentíssemos. É o medo de perdermos um filho que nos joga no abismo para salvá-lo. É o medo de perdermos a vida que nos impele a um ato de bravura. É o medo de ficarmos tristes que nos encaminha para a felicidade. O medo  deve ser mola para o salto, e não desculpas para o imobilismo. Ter coragem é agir mesmo quando se tem medo.

O que nos leva a essa greve é o medo também. O medo de sermos superexplorados, o medo de vermos nossa universidade cada dia mais medíocre, o medo de vermos nossa carreira profissional jogada no limbo, o medo de aceitarmos uma instituição antidemocrática e excludente. Esse medo nos impulsiona, nos dá coragem. E é disso que precisamos agora. Que as ameaças sirvam para nos empurrar para frente. Que o assédio sofrido nos setores nos levante em rebelião. Mastigamos o medo, devagar, sem pressa, até que se transforme na energia necessária para virar o jogo.

Vivemos um momento decisivo. E estamos juntos. Nada pode ser mais poderoso que a união de todos os trabalhadores. As direções vêm e vão. Nós somos o que permanece. Vamos domar o medo com a força de todos os TAEs e enfrentar essa batalha. Nós podemos, juntos, empurrar estas pesadas e anacrônicas portas, que não permitem a UFSC aberta!

É hora da coragem!

Florianópolis, 14 de agosto de 2014

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