quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Um bom professor é preciso

As (des)venturas dos TAES no Conselho Universitário
Um bom professor é preciso
Por elaine tavares – representante dos TAEs



O Conselho Universitário é, deveras, um espaço fundamental para a compreensão do que sejam as ideias que ainda perduram na universidade. Ali, em reuniões aparentemente enfadonhas, se expressam as visões que, ao final das contas, dominam o fazer e a organização da instituição. Para nossa bancada de técnicos administrativos tem sido extremamente pedagógico acompanhar os debates que envolvem a vida universitária, e apesar do pequeno número (somos apenas seis com direito a voto), temos conseguido observar as entranhas da UFSC e ocupar o espaço para conversar com a comunidade sobre o conservadorismo que impera nessa que deveria ser a casa do saber e da liberdade. É bem sabido que, no mundo ocidental, a instituição universidade é filha da liberdade. Nasceu no século XI para se contrapor ao pensamento atrasado da igreja que impedia o avanço da ciência. Então, ela é por nascimento, rebelde.

Mas, não é esse o perfil da nossa universidade em Santa Catarina. Na reunião do dia 20 de agosto pudemos participar de um debate que mostra claramente a visão elitista e conservadora que boa parte dos conselheiros ainda tem com relação ao que seja a universidade. Estava em pauta a discussão sobre as regras que vão sulear os novos concursos para professores.  Muitos são os quesitos, mas vamos tratar de um em particular, que foi bastante paradigmático: os pontos da prova didática. A comissão criada para pensar as regras apresentava sua proposta e nela havia uma mudança com relação a quanto deveria valer a prova didática que é feita para o ingresso dos professores. Apontava a comissão um certo equilíbrio entre a prova de títulos ( que significa pontuar o número de títulos que o professor tem, mestrado, doutorado, pós-doutorado) e a prova didática ( que é a que mostra se o professor sabe passar os conhecimentos que tem).

Nesse ponto apareceu a proposta de dar mais valor à prova de títulos, e não realizar mais a prova escrita. A sugestão era de que o candidato, em vez de passar pela prova, escrevesse um artigo que seria defendido em banca. O argumento para isso era que o candidato poderia assim matar dois coelhos com um só golpe: participava do concurso e já tinha um “paper” pronto para publicar, bem ao gosto do produtivismo Capes.  A partir daí começou um debate que definiu as visões de universidade que se digladiam no Conselho. Tanto a bancada dos técnicos como a dos estudantes se manifestaram contrárias à proposta. Apresentaram os seguintes argumentos:  A prova didática é que deveria ter mais valor uma vez que é na sala de aula que o professor precisa saber expor seu conhecimento e é assim que o aluno poderá aproveitar melhor o saber do docente. Muitas vezes a pessoa tem muitos títulos, mas não tem didática para repassar os conteúdos.  Considerando que a graduação tem sido bastante penalizada nos últimos tempos, com falta de docentes qualificados em razão da preferência pela pós-graduação, os novos concursos deveriam ser mais contundentes no quesito didático.

Os estudantes insistiram que têm sido recorrentes as reclamações sobre professores que não sabem dar uma boa aula e que seria de bom alvitre o conselho considerar a posição daqueles que são os que vivem o cotidiano da sala de aula, com consequências cruciais no aprendizado do conteúdo. A cada argumentação pela manutenção de um peso maior para a prova didática, as falas contrárias traziam contra-argumentos muito interessantes, como o de uma professora do CFH que disse que a prova didática não avaliava a didática, mas sim outras coisas como, por exemplo, se o professor dominava o conteúdo. Essa fala novamente gerou polêmica  e eu mesma quis saber quais eram então os critérios de uma prova didática. Porque não havia sentido ter uma prova didática que não avaliava a didática. Sugeri então que a banca avaliadora da prova em questão procurasse avaliar a didática e mais, que tivesse nela uma representação estudantil, pois os alunos seriam os que melhor teriam condições de avaliar. Nesse momento várias professoras riram alto, ridicularizando a proposta.  Ao que parece, para alguns docentes, os alunos são apenas um “detalhe” que eles têm de aturar. É aí que se pode ver o conservadorismo e o elitismo e o preconceito se expressando.  Que venham os “titulados” mesmo que não saibam dar aula, danem-se os estudantes da graduação e riam-se dos técnicos que querem dar “pitaco” nas questões dos professores.

A pró-reitora Joana Pedro redarguiu veementemente contra a argumentação de que há um privilégio para a pós-graduação e sugeriu que se publicassem os PADs de todos os professores para mostrar que isso não é verdade.  Foi avisada depois de que isso já é feito.  O diretor de Ensino, professor Adir, corroborou a fala dos estudantes dizendo que realmente tem de lidar a todo o momento com professores que não querem dar aula na graduação, mas afirmou que não há confronto entre a graduação e a pós. Defendeu também a valorização da prova didática. O professor Flávio, do CSE, apresentou a proposta de incluir os estudantes na banca de prova didática, argumentando que eles são fundamentais para a escolha de um bom professor.  Ninguém riu, afinal, agora era um professor falando.

Ao final do debate, que se prolongou por bastante tempo, a reitora fez sua fala dizendo que era para os conselheiros cuidarem e não fazerem afirmações generalizadas, que não deviam trabalhar com exceções e tampouco fazer a crítica sem trazer sugestões. E, sem que se soubesse por que, disse que também deveria ser revisto o processo de ingresso dos TAEs (Técnicos-administrativos).  Afirmou ainda que a proposta do professor Flávio era revolucionária, mas que não dava para ser aceita no momento em função de que haveria muitos concursos e não seria possível formar as bancas. A proposta do professor foi à votação e perdeu, naturalmente. Votaram a favor, os técnicos e os estudantes, além do professor proponente.  

Ao final, foi à votação os pesos das provas e a proposta de não existir mais prova escrita. Por maioria foi recusada a não existência da prova escrita e passou a proposta o peso maior (meio ponto apenas) para a prova didática. Nesse aspecto, o conservadorismo perdeu, mas ainda assim é interessante ver como ele se expressa e como ainda tem poder. Vamos observar isso quando narrarmos sobre a votação da nova Bolsa Estudantil.

Nenhum comentário: